quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

"Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – 
que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente 
que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos 
ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, 
confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, 
caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego
 ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, 
estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. 
Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, 
presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia 
e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. 
Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. 
Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, 
incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. 
Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso
 ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas 
que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora 
eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor 
um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar…"

-  Alain de Botton em "O movimento romântico" (p. 160)




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