sábado, 20 de abril de 2019

“Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. [...] Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem.
Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. 
Amar com coragem não é questão de estilo, de gosto, de opinião. 
Não se adquire com a família, surge de uma decisão solitária. 
Amar com coragem é caráter. Vem de uma obstinação que supera a lealdade. 
Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. 
Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar, para fugir, 
para não nadar até o começo do corpo. Não usar atenuantes como “estou confuso”.
 Não se diminuir com a insegurança, mas se aumentar com a insegurança. 
Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um amor pela amizade. 
Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido. 
Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. 
Amar como se não houvesse tempo de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. 
Amar atrasado, com a respiração antecipando o beijo. 
Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. 
Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. 
Amar como quem volta de um longo exílio.
Amar com sofreguidão, não adiando o que é véspera. 
Amar não disfarçando as mãos, amar com os fantoches das mangas. 
Amar como uma canoa engatinha na margem, árvore deitada de bruços. 
Amar quase que por, por bebedeira, amar sem dizer por que ama. 
Amar desavisado, com vírgula entre o sujeito e o verbo. 
Amar desatinado, pressionando a amar mais, a amar mais do que é possível lembrar.
Amar com coragem, só isso.”

- Fabrício Carpinejar




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