quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

[1945]
"[...] Jorge pediu vinho do Porto. Sem fazer rodeios, entrou, enfim, no assunto urgente: dizendo que me amava, propôs-me casamento. Casamento sem juiz nem certidão, pois vivíamos num país sem divórcio [...]. Queria resolver de uma vez o problema de nosso relacionamento, que não passara até então de um namoro platônico. Jorge repetiu que me amava e que estava certo de que seríamos felizes. Encontrara em mim a mulher que sempre procurara. [...]
Sentia uma espécie de tontura, não tanto pelo vinho - estávamos no segundo cálice - como pela emoção. Sóbria, teria lhe confessado que também o amava, mas o vinho do Porto ajudou-me a ir além: disse-lhe, com veemência, sem nenhum constrangimento ou censura, que meu amor por ele era enorme, fora de todas as medidas. Eu o acompanharia para onde quisesse conduzir-me, paraíso ou inferno, enquanto sentisse que ele me amava".

- Zélia Gattai em "Um chapéu para viagem" (p. 41).


Nenhum comentário:

Postar um comentário

"E a gente vai vivendo e aprendendo que o que temos de mais precioso não é o que nossas mãos alcançam, mas o que o nosso coração abraça...