quinta-feira, 17 de setembro de 2015

"Há quanto tempo você não chora? Muito? 
Como era bom chorar! Hoje, no máximo, os olhos se enchem de lágrimas - 
mas só em uma cena emocionante de um filme ou livro. 
Por nossos sofrimentos, quase não choramos. 
Às vezes, contando um sonho ao analista, nossos olhos até se enchem, 
mas aquele choro grande que terminava em soluços e sempre motivava alguém 
a nos dar um ombro - imediatamente aceito - e nos abraçar forte, 
esse choro faz tempo. E esse ombro e esse abraço também. 

[...] E alguém tem tempo de sentir saudade de alguma coisa nessa correria?
Mas estou sendo injusta: se de uma coisa se tem saudade, é do tempo 
em que se chorava. Não das razões que levavam a isso, mas da capacidade 
não só de sentir como também de demonstrar. Hoje nos defendemos a tal ponto 
que fingimos não sentir nada. E, de tanto fingir, acabamos não sentindo mesmo. 
O coração vai virando uma pedra, sem sofrimento, mas também sem ternura, amizade, carinho, bondade, solidariedade. 
E, para não sofrer, descartamos da vida também o amor, é claro. 
Boas razões, aliás, para cair no choro".
   

- Danuza Leão in "Chorar era bom" - Revista Cláudia Setembro/2015 


2 comentários:

"E a gente vai vivendo e aprendendo que o que temos de mais precioso não é o que nossas mãos alcançam, mas o que o nosso coração abraça...