terça-feira, 17 de julho de 2012

A etiqueta da separação

"Quando tudo acaba, só há duas saídas: o alívio ou a dor. 
No primeiro caso, fica mais fácil (não para o outro, claro), mas, no segundo, a coisa muda de figura e é preciso muito autocontrole para não se tornar uma pessoa péssima. 

A vida é assim; as coisas começam e terminam, mas existem pessoas que não aprenderam a lidar com isso. Normalmente, as imaturas, de quem nada se pode tirar, pois elas não admitem que o outro pode mudar e querer novas experiências, fazer novas descobertas e seguir adiante. 

Pensei nisso ante a verdadeira epidemia de separações no mundo das celebridades, e, se elas que estão sob os holofotes andam se separando, é sinal de que os romances não estão chegando ao fim só para os vips. Uma telespectadora me perguntou no programa de Ana Maria Braga quanto tempo se deve levar para aparecer ao lado do próximo namorado depois do fim de seu relacionamento. Ora, nenhum. Cada um é dono de si. Mas pega bem respeitar um certo tempo regulamentar antes de postar uma foto no Facebook ao lado do novo grande amor, sob pena de transmitir ao mundo que as relações para você são voláteis e sem importância. 

Depois do fim de qualquer relacionamento, seja ele amoroso ou profissional, a primeira coisa a ser feita é sumir. Dar um tempo dos mesmos lugares, dos mesmos amigos e curtir a dor. Não dá simplesmente para fingir que ela não existe e não machuca. Você pode se cercar de um monte de gente, cair na gandaia de bar em bar, mas, na hora do travesseiro — aquela —, é o sentimento de luto que prevalece e você, mais cedo ou mais tarde, vai ter de encará-lo. Como seria bom apagar o passado e esquecer as brigas, o sofrimento, o rosto da pessoa amada e sobretudo os bons momentos, que um dia foram a razão da sua vida e hoje doem tanto. Mas como seria horrível não se lembrar de nenhum deles. Não há olhar mais bonito do que aquele com um fundinho de fossa, sinal de sobrevivência e muita força para seguir adiante. Mas esse olhar só tem beleza quando você não faz dele uma bandeira. 

Se ainda não se sente firme para dar a volta por cima, segure a onda e fique em casa. As pessoas até ouvem o primeiro e o segundo desabafos, mas, no terceiro, você se torna inconveniente. Para isso existe um bom terapeuta, que tem habilidade técnica necessária para ajudar a reverter o ressentimento. O termo, aliás, é o mais adequado: ressentir, sentir de novo e sentir sempre aquilo que simplesmente não deveria mais existir ou que deveria se transmutar em algo melhor, mais útil, como a sede de não cometer mais os mesmos erros e se corrigir. 

Não adianta, portanto, fazer do ouvido dos amigos um consultório público — eles podem até lhe dar aquela força nos momentos de maior angústia, mas procure eleger uns dois ou três de confiança e, ao resto, só flores. De preferência, dois ou três amigos que o aconselhem a virar a página e seguir em frente. Não aqueles que fomentem o ódio ou a mágoa. Porque pior que a tristeza, só o ódio. Procure não falar mal de quem você tanto amou ou de alguém com quem tenha trabalhado sob pena de parecer você sabe o quê. Foi bom enquanto durou, o que passou passou. Pode não ter dado certo com você, mas quem sabe com os outros? E, enquanto deu certo, confesse, vocês foram muito felizes. Poucas situações são tão tristes quanto uma ex que fala mal do ex, um empregado que reclama do antigo trabalho, um chefe que detona o ex-funcionário, um ex-amigo que conta as maiores futricas do antigo companheiro de todas as horas. 

Depois de chorar muito e arrastar corrente, o próximo passo é parar de culpar o outro e pensar o que você — é, você — poderia melhorar da próxima vez (apesar de jurar que ela não vai chegar nunca, ela sempre chega). Porque, no fim de uma relação, não existem anjos ou demônios, vítimas ou algozes. Todo mundo erra e, numa desavença, não existe apenas um culpado. Para seguir adiante, é preciso olhar para si e resolver seus próprios fantasmas. Perdoar sempre, esquecer jamais? Quem inventou essa frase deve carregar um peso enorme; nada melhor do que esquecer o que passou de ruim, as palavras mal ditas num momento de raiva. 

Leva um tempo, que pode ser curto ou longuíssimo, mas a vida dá tantas e tantas voltas que aquilo que tinha importância de repente não tem mais. E, ao contrário do que se diz por aí, as pessoas mudam, sim — ainda bem. Isso não quer dizer que você vai cair na roubada novamente. Quem aprendeu com as más experiências geralmente procura se policiar para fugir dos mesmos padrões. É uma questão de inteligência, de sobrevivência, que não implica em perseguir aqueles que por ventura o tenham decepcionado. 

Por mais certos que se sintam, acredite: paira sempre aquela tristezinha no fundo da alma em nome dos bons momentos que se viveram juntos. Na hora da raiva, eles parecem não ter existido, mas existiram, sim. E é por causa — e saudades — deles que certas pessoas não perdoam, não esquecem e não relevam, abrindo mão do grande barato da vida, que é mudar para saber receber outros grandes bons momentos. 

- BRUNO ASTUTO 
http://colunas.revistaepoca.globo.com/brunoastuto/2012/07/01/a-etiqueta-da-separacao/


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