terça-feira, 14 de abril de 2015

"Nina, você vai ter que entender, tem gente que é deste jeito:
não gosta de despedidas.
Não chore, Nina, não chore.
Ou melhor, chore bastante.
A gente afoga nas lágrimas a dor que não entendemos.
MAS, espere, Nina, espere, porque há duas razões para você não chorar.
SE muito além desse sono que vovó está dormindo 
não existe nada mais - como muita gente crê -
não existe despertar, nem porto, destino ou luz;
se tudo acabou de vez - acabou, completamente -
pode ter certeza, Nina, a vovó está em paz;
não sabe nem saberá que está dormindo pra sempre.
Aí, você pode, Nina, ir dormir o seu soninho e sonhar um sonho bom,
pois vovó não está sofrendo.
Como não vai acordar - seja aqui do nosso lado, seja em outro lugar - 
ela está sonhando, Nina (como sonha, toda noite,
quem dorme um sono profundo).
[...]
SE, porém, depois desse sono imenso,
Vovó Vivi despertar num outro mundo, feito de luz e de estrelas,
veja, Nina, que barato!!! Que lindo voar no espaço!
E aí, se acreditamos que é desse jeito que as coisas acontecem,
depois que a vida na Terra termina, pode ter certeza, Nina:
vovó está vendo você.
[...]
Portanto, não chore mais e vá dormir, minha querida.
Dos dois jeitos desse adeus é que a gente inventa a vida".

- A sensibilidade única de Ziraldo em "Menina Nina", pois não importa nossa idade, voltamos a ser crianças quando perdemos um de nossos pais.





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