"A transmissão da herança imaterial é uma doação ativa dos pais (eles falam, educam, cuidam, mostram seus amores e mágoas), mas o filho não é um herdeiro passivo. [...] É na vida familiar como um todo, da forma como essa é ditada pelo inconsciente parental, que o filho faz sua colheita de traços identificatórios. A percepção inconsciente da criança vai além da hipocrisia, da falsa moral, das convenções sociais, mesmo sem sabê-lo, ela vai em busca dos detalhes que revelam a verdade sobre o amor, o desejo, as frustrações e as expectativas de seus pais.
[...]
A construção da identidade dos filhos não se estrutura necessariamente sobre o modelo das virtudes dos pais, evidentemente que essas podem servir de substrato, mas o que organizará a lista dos itens que um filho vai tomar para si está mais do lado do que falta a seus pais do que daquilo que eles possuem. Por mais que os pais possam se mostrar satisfeitos com o que conquistaram na vida, será em nome daquilo que ainda lhes falta que eles próprios seguirão sua caminhada.
O que falta aos pais é representado por aquilo que eles desejam. Se tiverem, por exemplo, sucesso profissional, mas lhes faltar qualidade de vida, para o filho será um grande desafio construir uma vida equilibrada entre o trabalho e o lazer ou entre este e o tempo dedicado à família. Um filho procurará transcendê-los, mais do que imitá-los. [...] Partirá do ponto onde os pais encontraram seu limite."
- Corso & Corso em "Fadas no Divã" (p. 121-122)
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