terça-feira, 6 de outubro de 2020

"Às vezes, com o objetivo de aproximar uma mulher da natureza da vida-morte-vida, eu lhe peço que cuide de um jardim. [...] O jardim é um vínculo concreto com a vida e a morte. Seria mesmo possível dizer que existe uma religião dos jardins, pois eles nos ensinam profundas lições espirituais e psicológicas. Qualquer coisa que possa acontecer a um jardim pode acontecer à alma e à psique - excesso de água, falta de água, pragas, calor, tempestades, enchentes, invasões, milagres, ressecamento, revedercimento, bençãos, cura.
Durante a existência do jardim, a mulher escreve um diário, registrando os sinais de doação de vida e de retirada de vida. Cada registro aMjuda a formar uma sopa psíquica. No jardim, adquirimos prática para deixar que pensamentos, ideias, preferências, desejos e até mesmo amores vivam e morram. Plantamos, arrancamos, enterramos. Secamos sementes, fazemos a semeadura, protegemos as plantinhas.
O jardim é uma prática de meditação, a de dizer a hora de alguma coisa morrer. No jardim, podemos ver chegar a hora de desfrutar e a hora da regressão. No jardim, estamos nos movendo de acordo com a inspiração e a expiração da grande natureza selvagem, não contra ela.
Através dessa meditação, reconhecemos que o ciclo da vida-morte-vida é natural. Tanto o lado da mulher selvagem que dá a vida quanto aquele que distribui a morte estão esperando um contato amigo, esperando ser amados para sempre. Nesse processo, nós nos tornamos como a natureza selvagem cíclica, Temos a capacidade de infundir energia e reforçar a vida, sem atrapalhar o que vai morrer".

- Clarissa Pinkola Estés em "Mulheres que correm com lobos" (p. 131).       

     

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