domingo, 4 de outubro de 2020

"Amor-próprio — o que significa isso? O que eu amo "em mim mesmo"? 
O que eu amo quando amo a mim mesmo?
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[…] O que amamos em nosso amor-próprio são os eus apropriados 
para serem amados. O que amamos é o estado, ou a esperança, de sermos amados. 
De sermos objetos dignos do amor, sermos reconhecidos como tais e recebermos 
a prova desse reconhecimento.  Em suma: para termos amor-próprio, 
precisamos ser amados. A recusa do amor — a negação do status de objeto digno 
do amor — alimenta a auto-aversão.
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E como podemos saber que não fomos desconsiderados ou descartados 
como um caso sem esperança, que o amor está, pode estar, 
estará prestes a aparecer, que somos dignos dele? 
Nós o sabemos, acreditamos que sabemos e somos tranquilizados 
de que essa crença não é um equívoco quando falam conosco e somos ouvidos, 
quando nos ouvem com atenção, com um interesse que sinaliza uma presteza 
em responder. Então concluímos que somos respeitados. Ou seja, 
supomos que aquilo que pensamos, fazemos ou pretendemos fazer
 é levado em consideração. Se os outros me respeitam, então obviamente 
deve haver "em mim" — ou não deve? — algo que só eu lhes posso oferecer. 
E obviamente existem esses outros — não existem? — que ficariam satisfeitos 
e gratos por isso lhes ser oferecido.
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Se é isso que nos torna objetos legítimos e adequados do amor-próprio, então 
a exortação a "amar o próximo como a si mesmo" (ou seja, ter a expectativa 
de que o próximo desejará ser amado pelas mesmas razões que estimulam 
nosso amor próprio) evoca o desejo do próximo de ter reconhecida, admitida
 e confirmada a sua dignidade de portar um valor singular, insubstituível 
e não-descartável. A exortação nos leva a pressupor que o próximo 
de fato representa esses valores — ao menos até prova em contrário.
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Amar o próximo como amamos a nós mesmos significaria então respeitar
 a singularidade de cada um — o valor de nossas diferenças, que enriquecem
 o mundo que habitamos em conjunto e assim o tornam um lugar mais fascinante 
e agradável, aumentando a cornucópia de suas promessas.

- Zygmunt Bauman, em Amor Líquido - sobre a fragilidade dos laços humanos
via Psicóloga Elaina Nunes


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