domingo, 26 de setembro de 2021

"Um relato não apenas sobre a morte de um pai amado, mas também sobre a memória e a esperança que permanecem com aqueles que ficam".

"Minha irmã Uche diz que acaba de avisar por mensagem um amigo da família, e eu quase grito: 'Não! Não conte para ninguém, porque se a gente contar vira verdade' " (p. 12).
"O luto é uma forma cruel de aprendizado" (p. 14).
"Minha raiva me assusta, meu medo me assusta [...]. Tenho medo de ir para a cama e acordar; tenho medo do amanhã e de todos os amanhãs que virão depois. [...] Como é possível o mundo seguir adiante, inspirar e expirar de modo idêntico, enquanto dentro da minha alma tudo se desintegrou de forma permanente?" (p. 22).
"[...] a idade no luto é irrelevante: não importa quantos anos ele tinha, mas o quanto ele era amado" (p. 37).
"Eu hoje me envergonho das palavras que já disse a amigos enlutados. 'Encontre paz nas suas lembranças', eu costumava dizer. Ter um amor arrancado, sobretudo quando isso é inesperado, e depois ouvir que se deve recorrer às lembranças. Em vez de virem me acudir, minhas lembranças trazem eloquentes pontadas de dor que dizem: 'É isso que você nunca mais vai ter'. Às vezes elas trazem o riso, mas um riso que é como carvões em brasa que logo voltam a se transformar nas chamas da dor. Tomara que seja uma questão de tempo - tomara que seja só demasiado cedo, terrivelmente cedo para esperar que as lembranças sirvam apenas como bálsamo" (p. 38-39).
"Finalmente entendo por que as pessoas fazem tatuagens daqueles que perderam. A necessidade de expor não só a perda, mas o amor, a continuidade. Eu sou filha do meu pai. É um ato de resistência e uma recusa: é a dor lhe dizendo que acabou, e o seu coração dizendo que não; a dor tentando encolher seu amor para deixá-lo no passado, e o seu coração dizendo que o amor é no presente" (p. 108).


- Chimananda Ngozi Adiche em "Notas sobre o luto"




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