"Também damos adeus a pessoas, o que é o pior:
as que vão viver longe; as que se desprendem de nós, como acontece,
porque o afeto ficou ralo demais, ou o 'longe' chama com muito fervor:
passam para um limbo de onde às vezes emergem, como de um nevoeiro,
e dói um pouquinho, e pensamos 'mas o que será que aconteceu?'.
E damos adeus de verdade aos amados que enveredam pelo jardim de neblina
e silêncio, que chamamos morte, de onde não vão retornar.
Uma vez ou outra, parecem nos mandar recados:
o som dos passos no corredor, aquela voz, o jeito de falar,
de virar o rosto, de estender a mão, de nos olhar.
Com o tempo, tantos adeuses fazem da alma uma espécie de renda -
não necessariamente feia, mas intrigante: porque podemos celebrar com espumante
ou lágrimas, ou risos bons, o movimento dessa engrenagem de que somos parte.
E que, apesar dos adeuses, alguns tão doloridos, se chama, mais do que morte, vida.
Nisso eu também ainda acredito"
- Lya Luft em 'As coisas humanas" (p. 56).
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