"Ela era mesmo uma graça (pensou o amante, no auge do julgamento subjetivo).
Mas como eu poderia dizer a ela isso de forma que sugerisse a natureza distintiva
de minha atração? Palavras como amor ou dedicação ou paixão
estavam exauridas pelo peso de sucessivas histórias de amor,
pelas camadas impostas a elas pelo uso dos outros.[...]
Parecia não haver meio de transportar o amor para a palavra A-M-O-R
sem usar associações mais banais. [...]
Não era dever meu ser autor de meus próprios sentimentos?
Não tinha de construir uma declaração de amor tão única
quanto Chloe era única?[...]
Até mesmo de forma mais inexplicável, quando peguei a mão de Chloe,
falei que tinha algo muito importante a lhe dizer, que eu a marshmallava,
ela pareceu entender perfeitamente, respondendo que era a coisa mais doce
que alguém já havia lhe dito.
E dali por diante, o amor foi, pelo menos para mim e Chloe,
não mais simplesmente amor, era um objeto fofo e açucarado
de poucos milímetros de diâmetro que derrete deliciosamente na boca".
- Alain de Botton em "Ensaios de amor" (p. 85-87).
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