quinta-feira, 29 de abril de 2021

"Segura essa pedrada ... 

No começo era só por ficar. Sem apego, sem cobrança. Por prazer (por muito prazer inclusive).

Ambos vínhamos de decepções, estávamos quase que em cacos, e tínhamos um medo enorme de amar novamente. 

Até o dia que a gente assistiu “simplesmente acontece” e dormimos no meio do filme. Até então nunca havíamos dormido juntos. Era apenas sexo, e cada um na sua casa, cada um na sua vida.

Mas dormimos. Eu acordei de madrugada, olhei ela ali, pensei em fazer um barulho, em acorda-lá, mas ela parecia tão exausta. Então virei pro meu canto e dormi.

Acordei na outra manhã com cheirinho de café na cozinha. Pulei da cama de susto!!!!! Havia esquecido que tinha outra pessoa ali. Do meu quarto ouvi ela cantando, mano eu nem sabia que ela cantava tão bem assim. Fui bem devagarinho, ela estava com uma camisa minha, que dava duas dela, e que ficou melhor nela que em mim.

Fiquei sem jeito, que coisa estranha. Nunca tinha sentido isso, não queria incomoda-lá. Então, por instinto a abracei por trás, mas dessa vez sem maldade, com carinho, com ternura, como quem cuida.

Daí pra frente os cafés se tornaram frequentes, depois vieram os almoços, os jantares, outros sonos.

Hoje não sei o que seria de mim ao acordar e não sentir o cheirinho de café que ela faz, de não ver ela dormindo no meu peito, de não escutar as musicas que só ela conhece, na voz que apenas ela tem...

Às vezes a gente não percebe, mas a pessoa que vai nos curar é a que também está ferida. A que, assim como nós, um dia teve o coração partido, mas que de uma forma ou outra trouxe a metade dele, que pra sua surpresa cabe na outra metade que sobrou do seu. E então você entende o porquê um dia teve o coração partido. 

O amor que fere é o mesmo que cura".


- Kaique Mamede Fernandes






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