segunda-feira, 18 de novembro de 2019

"Podemos nos apaixonar a qualquer idade", diz sociólogo

lberoni afirma que todos "podemos nos apaixonar com qualquer idade", mas, acredita, "principalmente nos momentos em que a nossa vida dá uma virada".
"Quando passamos do ensino médio para o superior, quando chegamos à universidade, ou quando mudamos de trabalho ou de cidade (...)", explica.
Leia trecho:
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Por que nos apaixonamos?
Porque nos sentíamos insatisfeitos, inquietos, sozinhos, mas também cheios de vida e preparados para um novo encontro, prontos a renascer livres e felizes. O enamoramento explode quando o indivíduo sente-se comprimido, acuado, aprisionado, impedido de expressar as suas potencialidades e então, ao encontrar outro alguém nas mesmas condições, abre-se, liberta-se, desabrocha. Para fazer com que as flores desabrochem é preciso privá-las da água. A planta, diante do perigo, abre as pétalas, espalha o seu pólen e gera nova vida. Apaixona-se o jovem que sai de casa e enfrenta o mundo, apaixona-se a pessoa que se mudou para outra cidade e tem um novo trabalho, que se depara com a novidade. Apaixona-se quem descobre que está vivendo uma vida árida e vazia demais, e sente queimar dentro de si o desejo de uma felicidade que nunca experimentou.
Quando nos apaixonamos?
Quando estamos cansados do passado e prontos a nos mudar, a correr riscos de novo. Porque nos modificamos por dentro, pois o ambiente onde nos encontramos se alterou, porque não nos sentimos à vontade com a pessoa com a qual vivemos, pois não conseguimos realizar os nossos desejos mais profundos e expressar as nossas potencialidades, porque nos sentimos prisioneiros dos hábitos e da rotina, da hipocrisia, do tédio. Mas também já que fomos promovidos, porque alcançamos um sucesso e desejamos realizar sonhos dos quais até então sempre havíamos desistido. Nesta hora procuramos alguém que nos permita saborear uma nova maneira de ser. Podemos, portanto, nos apaixonar com qualquer idade, mas principalmente nos momentos em que a nossa vida dá uma virada. Quando passamos do ensino médio para o superior, quando chegamos à universidade, ou quando mudamos de trabalho ou de cidade, ou ao completarmos quarenta anos, quando começa a maturidade, ou até aos sessenta, aos setenta, quando começa a velhice, mas ainda estamos cheios de vida e de vontade de viver.
É verdade que nos apaixonamos nos momentos em que nos sentimos felizes?
Não, não é verdade. Quem está em paz consigo mesmo e com o ambiente que o cerca, quem está satisfeito com o que tem, quem encontra plena satisfação naquilo que faz não se arrisca a apostar tudo apaixonando-se por alguém com quem recomeçar partindo do zero. O enamoramento é uma revolução, e ninguém faz uma revolução se está satisfeito com o que tem. Rebela-se quem possuía alguma coisa que lhe foi tirada, quem almejava alguma coisa e ficou decepcionado, quem era prisioneiro e aspirava à liberdade, quem tinha um sonho e nunca pôde realizá-lo. O amor é um risco, e você não se arrisca a não ser que deseje mudar de vida, a não ser que queira deixar para trás o que já tem.




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