"Escolher o amor é encontrar e descobrir quem é para nós. Isto não quer dizer apontar quem pode ser um bom marido, uma boa esposa, o amante, a namorada. Tem a ver com intuição e eleição. E independência.
Sim, escolher o amor é exercer a independência. E, em nome desta independência, serão aceitas todas as dependências naturais, aderentes à relação. Parece contraditório, contudo não é. Só quem está inteiro na sua escolha e é total na direção de seu destino aceita as inevitáveis dependências naturais na vida e no amor. É que, na escolha do amor, está o encontro com a verdade individual e profunda de cada ser, uma verdade sem disfarces, que liberta.
Quem chegou ao amor por independência terá aceito a carga de sofrimentos, sustos, solidão e agressões aí originados. Não considera dependentes certos atos em prol do ser amado que, em outro contexto, seriam feitos com sacrifício, ou pareceriam servidão. E, assim livre, consegue ser feliz nas dependências naturais do amor.
Como o amor, a independência é filha da crise. Escolher caminhos ou pessoas é sempre crise, é conflito. Implica abrir mão, deixar, renunciar, abandonar, para operar a (nova) escolha. E o que se deixa, larga ou abandona, também dói, fere, dá culpa, sobretudo se não nos é indiferente ou descartável.
Escolher é, pois, viver a crise. Também. O verdadeiro sentido da palavra crise é dividir, separar. Provém do grego krisis. Krisis é o ato de escolher, de separar, de julgar. É escolha, julgamento, eleição, divisão. Ao ter que escolher, somos tomados por uma crise, vale dizer, por uma divisão. O fato de estar dividido, fragmentado pelos vários pólos de cada escolha é um ato crítico. Crise é, portanto, uma situação completa de escolha de caminhos ou decisões.
Não há independência sem crise. Logo, não há amor sem crise. E o amor só se torna feliz, se pode escolher e ser escolhido num misterioso ato completo de liberdade".
- Arthur da Távola
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