quinta-feira, 3 de novembro de 2016

“A tendência de realização pode, é claro, ser impedida, mas não pode ser destruída, sem destruir o organismo. Lembro-me de que, na minha infância, a lata na qual armazenávamos nosso suprimento de batatas para o inverno ficava no porão, quase um metro abaixo de uma pequena janela. As condições eram desfavoráveis, mas as batatas começaram a brotar – brotos brancos e pálidos, tão diferentes dos brotos verdes saudáveis que exibiam quando plantadas no solo, na primavera. Porém, esses brotos espigados, tristes, poderiam crescer de 60 a 90 cm de comprimento à medida que buscavam a luz distante da janela. Em seu crescimento fútil, bizarro, eram uma espécie de expressão desesperada da tendência direcional. Nunca se tornariam uma planta, nunca amadureceriam, nunca preencheriam suas potencialidades reais. Entretanto, sob as mais adversas circunstâncias, lutavam para tornar-se. Não desistiriam da vida, mesmo se não pudessem florescer.

Ao tratar de clientes cujas vidas têm sido terrivelmente emaranhadas, ao trabalhar com homens e mulheres  em relegadas enfermarias de hospitais públicos, penso frequentemente naqueles brotos de batatas. Foram tão desfavoráveis as condições nas quais essas pessoas se desenvolveram, que suas vidas muitas vezes pareceram anormais, distorcidas, dificilmente humanas. Entretanto, deve-se confiar na tendência direcional que nelas existe. O indício para entender seu comportamento é de que estão lutando, do único modo que lhes é possível, para alcançar o crescimento, para tornar-se alguém. Para nós os resultados podem parecer bizarros e inócuos, mas são tentativas desesperadas de vida para tornarem-se elas próprias. É esta potência tendência que constitui a base da abordagem centrada na pessoa.”

Do livro “Sobre o Poder Pessoal” de Carl Rogers


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