"Uma coisa é jogar peteca sozinho. A gente bate a peteca para o alto, ela sobe,
dá uma cambalhota, desce, e quando ela acaba de descer a gente bate de novo ...
É muito divertido. Mas é um jogo solitário. [...]
Uma outra coisa é jogar peteca com um parceiro. Agora o que é divertido
não é o exercício solitário jogador-peteca (amante-amor).
O que é divertido é a relação que se estabelece.
Mas essa relação exige que o outro me devolva a peteca.
Você está me dizendo que você joga a peteca, mas o seu parceiro não a devolve.
A peteca cai no chão. Acho que é isso que você quer dizer ao falar de 'retribuição'. Você está jogando sozinha o jogo do amor. [...]
São três as alternativas:
1. Você para de jogar peteca. Joga a peteca fora.
Aprende a jogar outro jogo - o jogo do trabalho, por exemplo.
2. Você se conforma em jogar peteca sozinha, isto é, consola-se
com o 'sentimento amoroso' infeliz.
3. Você para o jogo, pega a peteca e vai procurar um outro parceiro
que tenha prazer em jogar peteca com você.
A escolha quem faz é você".
- Rubem Alves in "Amar sem esperar retribuição",
no livro "A grande arte de ser feliz"
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