"Meu melhor amigo morreu. [...]
Em momentos assim tenho um dó imenso das pessoas que têm um deus forte.
Pois - coitadas - estão perdidas diante da morte.
Ter um deus forte é saber que, se ele tivesse querido, ele teria evitado a morte.
Se não evitou é porque não quis. Ora, se foi ele quem matou, ele não pode estar sofrendo. Está é feliz, por ter feito o que queria. Assim, ele é culpado da minha dor. Eu e ele estamos muito distantes, infinitamente distantes. Como poderia amá-lo - um deus assim tão cruel? Mas, se ele é um deus fraco, isso quer dizer que não foi ele quem ordenou - ele não pôde evitar. Um deus fraco pode chorar comigo. Ele até se desculpa: 'Não foi possível evitá-lo. Eu bem que tentei. Veja só estas feridas no meu corpo: elas provam que eu me esforcei ...'. Ele chora comigo. Assim, nós dois, eu e o meu deus, choramos juntos. E por isso nos amamos".
Rubem Alves - Quando a dor se transforma em poema
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