"Se eu te perguntasse agora quem você é, você me diria que é o que sobrou. Das coisas, das pessoas, dos lugares, do passado, das horas, das histórias. Eu diria que você é a coragem de romper ciclos que te adoecem. Você é a teimosia em ser mundo: tão viva que cada uma de nós que decide prosseguir tem um pouco de você.
Se eu te perguntasse hoje do que você é feita, você me diria: atravessamentos. Realmente, eu nunca questionaria o seu poder de cruzar o fogo. De cruzar areia movediça. De cruzar onda forte. E ainda assim pousar na mansidão porque a natureza ama o seu nome e te relembra que podemos escolher por onde nosso corpo irá passear.
Quem te machucou não pode mais te queimar. Quem te machucou não pode mais te queimar. Quem te machucou não pode mais te queimar. Você decidiu isso quando partiu. Você decidiu se abraçar bem forte e refazer sua casa. Eu quero te saber para além das cicatrizes. Do olho marejado. Do gosto exausto. Yemanjá está dizendo que já faz tempo que os tempos são outros, então é impossível que você esteja naquele mesmo lugar. Perceba, mais do que habitar a si mesma, se curar é desabitar o outro.
Mesmo que eu não te fizesse nenhuma pergunta, você me diria que não há caminho. Sendo que foi você que soprou fresta na escuridão. Foi você que se arranhou nos galhos quando florescer parecia arriscado. Foi você que amassou calendários, contrariou muita gente, fez rezas e banhos e cantos pra não ser fim. Você é o seu próprio caminho, meu bem.
O crédito é todo seu, vê?
Mulheres como nós tem composições grandes. Não cabe a dor aqui. Não quando o assunto for quem nós somos. Nós somos aquilo que brilha e atordoa. Nós somos a música que nunca parou."
- Ryane Leão - Onde jazz meu coração
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