"Mas o que faz a dor? A dor quando bem vivida, percebida, acolhida,
não passa de uma forte emoção. Nem toda dor é causada por alguém:
dor de amor é a mais vulgar (no sentido de ser a mais comum), dor existencial
é uma transcendência. Não evito minhas dores, vou até o cerne dos sentimentos,
vejo-a tão vital quanto a alegria. Pois se, através deste processo também me vem a necessidade de autoinvestigação e evolução interna, por mais desnorteada
que eu me veja enquanto inserida no emocional da situação, é esse desconforto
que me indica o degrau acima, me tira da zona de conforto, me instiga
a buscar uma nova direção. A dor bem aproveitada não deve ser temida,
deve ser usada como ferramenta para o autoconhecimento,
extirpação do mal-resolvido, para o crescimento.
Eu não temo a dor, nem emoção alguma, se assim fosse, até a alegria
me incomodaria. O que não permito é que ela me leve ao estado da prostração,
da autopiedade ou de algo que não aceite regeneração.
Dor transmuta-se. E o Tempo dono de todas as coisas, ensina quão provisório
é o pranto e a gargalhada. Por isso não recuso nada.
Que venha o que vier, como vier. Eu suporto qualquer circunstância que me lapide,
me desassossegue para que eu valorize os momentos de paz do meu coração.
Vida é totalidade. Inclui tudo. Vida é vontade de Mundo.
Dor faz parte da vida e, por mais preciosa que seja, não permito que ela seja a parte mais importante."
- Marla de Queiroz
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