"[...] Somos nós, muitas vezes, que não permitimos deixar passar, não queremos despedir da história que construímos internamente. Mesmo sendo doloroso, há algo que sustenta o sentimento nesse inalterado lugar teimoso. É a necessidade de sentir, ainda que seja dor, pois é ela que mantém o outro vivo dentro da gente. É o medo da morte dos sentidos que nos faz insistir em abrigar amores mesquinhos no peito. Mas a verdade é que não há morte de coisa alguma quando estamos dispostos a atravessar em direção ao outro lado desconhecido.
A mesma estrada que encerra, representa a possibilidade de outra começar. Quando se perde alguém, o caminho a progredir talvez seja o de se encontrar, porque ainda assim cambaleando, baleados, feridos e mal pagos, a dor nos coloca mais perto de nós mesmos. Todavia, seguir em pranto ainda parece uma razoável opção, já que nem todas as lágrimas são ruins. São restos de nós mesmos nos avisando para onde não devemos mais voltar. Carecemos descobrir como a vida é sem aquele que por escolha resolve partir. Isso significa nos acolhermos nas nossas outras inúmeras paixões que sustentam o viver. O que há com a outra parte da sua vida? Ela ainda persiste.
Talvez seja hora de vestirmos a melhor parte que temos, sair mundo adentro, convidar a dor e a solidão pra dançar. Há um universo de corações honestos esperando a possibilidade de encontrar alguém como você, como eu. E antes de tentar mais uma vez, guardemos a nós o compromisso de nos amarmos seriamente. Sigamos comprometidos com alguma alegria e realização dentro do universo de possibilidades que existem fora de um quarto frio e escuro. Assim é bem provável que mais adiante nos sentiremos imperdíveis pelo que somos capazes de construir a partir do caos. Então, antes que anoiteça, seja um pouco feliz hoje. Porque qualquer felicidade é melhor do que sofrer por alguém que não se pode ter, por um amor que não há."
- Ruth Borges
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