segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Sem que o outro tenha se modificado, sem que tenha sequer se movido do lugar, tudo aquilo que encantava, agora irrita. O que mudou? O olhar.
Isto é, o objeto continua o mesmo, a diferença está na maneira como as palavras e as atitudes são vistas (numa espécie de Efeito ET às avessas).  

No filme ET, O Extraterrestre, de Steven Spielberg, a primeira reação que a visão daquele estranho ser nos provoca é de susto; depois, quando nos convencemos (através do olhar do protagonista) que o bichinho não é violento, passamos a olhá-lo com certa repugnância: a pele rugosa, os olhos remelentos, as narinas abertas e úmidas, o som gutural que sai de sua garganta, tudo isso nos remete a répteis asquerosos. Mas, já no final do filme, tudo muda e os aspectos antes repulsivos agora mobilizam nossa ternura: os olhos do ET refletem desamparo, a pele transmite uma sensação de frio que pede aconchego, o som primitivo se transforma num lamento. Notem que mestre Spielberg não mudou nenhum detalhe do ET, é o mesmo boneco inflado, e o mesmo tipo de luz incide sobre a figura. Mas já não é a mesma luz que emana de dentro de nós, os sentimentos com os quais iluminamos a imagem transformam totalmente o que agora vemos".

- Lidia Aratangy em "O anel que tu me deste - o casamento no divã"      


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