"Vivemos numa época que não quer ser marcada. A maioria de nós tenta escapar das rugas, essas cicatrizes do rosto, de todas as formas - algumas delas bem violentas.
[...] Não há jeito de morrer sem marcas porque não há jeito de viver sem ser marcado pela vida. Mesmo os bebês, que por alguma razão morrem ao nascer, já trazem no corpo a primeira marca fundadora: o corte do cordão umbilical que lhes arrancou de dentro da mãe. O umbigo é nossa primeira cicatriz, aquela que nos unifica.
Se a tecnologia conseguir inventar um ser humano sem marcas é porque desinventou o ser humano. Podemos talvez um dia apagar todas as marcas visíveis, tatuadas no corpo. Mas nunca haverá uma cirurgia capaz de eliminar as marcas da alma.
[...] E o que nos humaniza é a capacidade de criar algo vivo
com nossas marcas de morte."
- Eliane Brum em "A vida se faz nas marcas"
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