terça-feira, 10 de junho de 2014

Longe dos olhos

Tem um ditado que diz: "longe dos olhos, perto do coração".
Sempre tive dúvida sobre este ditado. Há pessoas que seguem amando mesmo sem terem o menor contato com o dito cujo. Longe, refazem suas vidas, casam, têm filhos, mas seguem reservando no peito um espaço vip para aquele amor de antigamente.
Mas será mesmo que este espaço fica no coração? Será amor? Longe dos olhos, o ser amado se transforma numa fantasia. Portanto, acho que ele passa longe do peito.
Longe dos olhos, ele fica mais alto, ela fica mais bonita.  Longe dos olhos, a gente imagina tudo o que ele está fazendo sem a nossa presença, a gente imagina que ela está se divertindo a valer.  Longe dos olhos, a gente acredita que ele não pensa mais em nós, a gente aposta que ela tem outro. 
Longe dos olhos, tudo é recriado, tudo é fantasiado, e transformamos um amor que foi real e comum num amor irreal e comovente. 

Sem ser exercitado o amor atrofia. Pior: morre. E essa morte leva junto nossa crença no romantismo, na eternidade dos sentimentos, então a gente faz de conta que nada morreu, a gente faz de conta que tudo segue igual como antes, a gente faz de conta, faz de conta, faz de conta. Criamos um fantasma e o alimentamos como se fosse de carne e osso.

Quase todos os amores platônicos são idealizações. São fruto da nossa necessidade de se apegar aos próprios sentimentos, que são tão raros e portanto tão difíceis de abandonar. É cruel reconhecer que nossos amores impossíveis, não são nem impossíveis e nem amores: são apenas criações da nossa mente, são distrações para nossa rotina. No entanto não é preciso encarar com tristeza esta constatação. Dar-se conta disso, como diz uma amiga minha, é um alvará de soltura. Temos que aprender a nos livrar destes amores pegajosos e imperfeitos, que nunca se concretizam, nunca se realizam. Já que está longe dos olhos e longe do coração, que mantenham distância da nossa mente também.

- Martha Medeiros


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